quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Você realmente conhece os Contos de Fada?

Por Ailson "Boss" Lima e Thaynnah Leal

“...Os contos de fadas enriquecem a vida da criança e dão-lhes umas dimensões encantadas , exatamente porque ela não sabe absolutamente como as estórias puseram a funcionar seu encantamento sobre ela.”

Bruno Bettelheim em “A psicanálise dos Contos de Fada”

“...E ela sonhou com uma linda casa onde morava um elfo. Ele dançava e cantava uma melodia esquisita, mais ou menos assim: Mini, mini, mó, meu nome é Tom Tim Tot...”

Conto inglês anônimo


A bruxa má, a mocinha indefesa à espera de um bravo herói. Arquétipos muito utilizados nos nossos jogos tem uma origem muito mais profunda do que se imagina.

Os contos de fadas perpetuados em todo mundo como histórias para crianças transmitiam conceitos éticos e morais por trás dos seus enredos inocentes (você vai perceber ao longo do post que eles nem eram tão inocentes assim). Desta forma as histórias forneciam para as crianças ideias para resoluções de problemas. É assim em “A Gata Borralheira” onde ficamos diante da compreensão e aceitação de dilemas humanos como a perda familiar biológica, aquisição de nova família, diferenças sociais e da morte. É assim também na história da “Chapeuzinho Vermelho” na alegoria dos caminhos a serem escolhidos.


Foram os Irmãos Grimm que recolheram, diretamente da memória popular, as antigas narrativas, lendas ou sagas germânicas, conservadas por tradição oral.  Contos que possivelmente você já deve ter lido saíram da mente desses irmãos. A sua primeira série de Contos “Histórias para Crianças e do Lar” é de 1810 e contava com 51 narrativas. Muitas destas histórias também foram compiladas pelo escritor francês Charles Perrault que deixou para nós livros como "Contos de velha" e "Contos da Mamãe Gansa", sendo este último o título mais popular deste autor. Os contos de Perrault eram famosos por apresentar uma “Moral da história” em forma de verso no seu desfecho. O interessante é comparar justamente o final desses contos. Assim percebemos certa violência nos contos do francês e um cunho mais educativo e brando na versão dos Grimm.

Mas quais as verdades por trás destes contos infantis? Como eles estão agora? Muito se fala e pouco se sabe, porém continuando a ler este post você vai saber um pouco mais sobre maçãs envenenadas e bruxas da floresta...



Eternos contadores de histórias

Os contos de fadas, enquanto gênero literário medieval tem recebido várias releituras com o passar do tempo e sofrendo com as diversas facetas da globalização. O imaginário mítico dessas histórias age sobre o ser humano não apenas como uma fuga da realidade, mas também como uma extensão dela, onde a criação e a imaginação são o carro chefe deste gênero. Sua influência no comportamento humano vai além dos campos sociais e antropológicos, permeando o modo de agir ético e estético dos indivíduos, através de suas interpretações pessoais e das interlocuções estabelecidas pelos fatores tempo e espaço. A narrativa fantástica dos contos de fadas tem ligação direta com a proposta do RPG, que enquanto jogo em grupo, incentiva a criatividade e a produção textual – oral ou escrita – para o compartilhamento desta produção num grupo dentro de um contexto. Muito já foi discutido sobre o fantástico, inclusive, dentro da literatura, até mesmo o realismo é fantástico, uma vez que é a literatura não tem a pretensão de ser verossimilhante, muito embora faça menções à realidade. O que se deve procurar entender, de fato, é que o ser humano sempre estará criando histórias para compartilhar, dentro do campo da literatura ou da informatividade e todas essas histórias correm o risco de influenciarem as gerações futuras, pelo simples fato que sempre moveu a humanidade: a curiosidade.

Os contos na atualidade


Foi essa curiosidade que nos fez pesquisar mais a fundo sobre a história dos contos mais populares e descobrir que existem muitas versões e releituras para as histórias. Hoje, com a ascensão do cinema como uma forma popular de diversão, os contos de fada tomaram as telas seja como fonte de inspiração, ou até mesmo com a adaptação de grandes obras, como foi o caso da Garota da capa Vermelha e o mais recente Branca de Neve e o caçador:


Infelizmente, devido a atual situação do mundo hoje, são poucos os jovens que ainda crescem ouvindo histórias antes de dormir. O RPG tenta resgatar esse velho habito de contar histórias através das suas narrativas compartilhadas, que, a meu ver, são uma releitura daquilo que se fazia há algum tempo. O contador de histórias foi substituído pela televisão neste mundo globalizado e o resultado disso vocês podem conferir por aí.

Os finais que você nunca conheceu



Chapeuzinho Vermelho

Conhecemos uma Chapeuzinho Vermelho inocente que tem que levar doces para a sua vovó sempre preocupado com o lobo mau, que vive na floresta... Mas, na história original o lenhador não existe, na verdade a chapeuzinho e sua vovó são devoradas e não existe nenhum final feliz.
Em outra versão ainda mais antiga, a chapeuzinho faz um “strip-tease” pro lobo (que as vezes era representado por um lobisomem ou um ogro) para assim poder fugir enquanto ele esta "distraído". Existe ainda uma versão mais escrota ainda da história, onde o lobo estripa a vovó e obriga a chapeuzinho a jantá-la com ele. A chapeuzinho dá um jeito de fugir e, diz que precisa ir ao banheiro (que naquela época ficava do lado de fora das casas) e cai fora.



Branca de neve 

Na história original da Branca de Neve, a "madrasta malvada" (que em algumas versões não é madrasta e sim sua mãe original) não cai de um penhasco como é mostrado no final do filme da Disney. Ela é forçada a vestir sapatos de ferro em brasa e dançar até cair morta. Outro fato curioso nessa história é a idade da garota. Na versão dos Irmãos Grimm ela tem apenas sete anos (mesmo assim ela fica com o príncipe). E ao invés de dar um "beijo de amor", o principie carrega o CORPO MORTO (ou adormecido, se vocês quiserem) da branca de neve para seu palácio, para que assim ela estivesse sempre com ele. Depois de algum tempo, um de seus servos, cansado de ter que carregar um caixão de um lado pro outro, resolve descontar suas frustrações dando uma baita SURRA na branca de neve. Um dos golpes desferidos no estômago faz com que ela vomite a maçã envenenada e assim volte à vida.
Mas de todas as mudanças feitas através dos anos, a mais sangrenta foi em relação ao coração da Branca de Neve. Nas histórias mais antigas a rainha não pedia ao caçador para trazer só ele. Ela queria também outros órgãos principais como pulmão, fígado... Ela também queria um jarro com seu sangue.

A Bela Adormecida

Nas primeiras versões, ao invés de espetar o dedo numa agulha e cair desacordada, a bela adormecida tinha uma "farpa" encravada debaixo da unha. Parece uma mudança pequena, mas ela nos leva ao ponto que realmente importa. Nessa mesma versão, o príncipe não é tão encantado assim, e resolve “se satisfazer” na bela ainda adormecida. Depois de satisfeito, ele simplesmente vai embora. Nove meses depois, a adormecida dá luz a gêmeos que, em busca de leite acabam acidentalmente chupando o dedo dela, retirando assim a farpa amaldiçoada.
Como se não bastasse o príncipe que a engravidou continua lhe fazendo visitas durante os nove meses. Quando ele chegou lá e encontrou a bela, já não mais adormecida e com duas crianças, ele decidiu se casar com ela, mas ele não poderia levá-la ao seu castelo, pois sua mãe era uma OGRA! Ela tinha o habito de comer qualquer criança que aparecesse em seu caminho.

Por isso ele esperou alguns anos até que seu pai morresse e ele virasse rei para aí então poder levar sua mulher para seu reino. E assim aconteceu, mas na primeira viagem que ele fez, sua mãe ogra resolveu fazer o que todo ogro tem que fazer: comer seus dois netos, e não satisfeita, também sua nora. Mas, com a ajuda do cozinheiro a bela acordada conseguiu se esconder até o retorno de seu marido que quando ficou sabendo dos planos de sua mãe mandou mata-la.
Há outras versões para essa história, mas acho melhor parar por aqui né?

João e Maria

A história de um pai que larga os filhos na floresta para morrer de fome já causa certo desconforto nas crianças certo? Mas, numa versão mais antiga, a madrasta má, que pressiona o marido a lagar seus filhos na floresta, e a bruxa má são a mesma pessoa. Outra alteração feita durante os anos foi com relação à bruxa que, em certa versão da história, na verdade é um casal de demônios, e ao invés de cozinhar João, eles querem estripa-lo num cavalete de madeira!
Quando o demônio "macho" sai para uma caminhada, a "demônia" manda Maria ajudar João a subir no cavalete, assim, quando seu marido voltar, tudo já estaria preparado. A esperta Maria finge não saber como colocar João deitado e pede para a "demônia" mostrar como se faz. Quando ela deita no cavalete, João e Maria a amarram ela e rapidamente cortam sua garganta. Depois fogem levando o dinheiro e a carroça do pobre casal de demônios. Que pestes hein?



A pequena Sereia

Aqui notamos uma diferença no final do conto. Ao invés de se casar com o príncipe e viver feliz para sempre, a pequena sereia é abandonada por ele logo após ela beber a poção mágica que lhe transforma em mulher. Mas, como tudo tem seu preço, a poção tem um pequeno efeito colateral: durante o resto de sua vida a pequena ex-sereia iria sentir uma dor tremenda nos pés, como se eles estivesse pisando constantemente em facas. Vendo a traição, alguém oferece um punhal para que ela tenha sua vingança. Mas, ao invés disso, ela pula no mar e "morre" se dissolvendo em espuma.

Obs.: Ninguém sabe quem ofereceu o punhal para a Pequena Sereia...

Você pode entender um pouco mais sobre a simbologia nos Contos de Fada lendo:

A Psicanálise nos Contos de Fada – Bruno Bettelheim e HISTÓRIAS PARA CRIANÇAS OU METÁFORAS DA VIDA HUMANA? - Vera Lúcia Soares Chvata

Na internet existem várias versões para os finais das histórias infantis. É só procurar e estragar as lembranças da sua infância...

Até a próxima.

9 comentários :

  1. Após esse post, seria possível a srta. Ranúzia se sensibilizar e escrever uma matéria sobre Changeling: o Sonhar para o blog? :)

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  2. Apoiado! O livro de Changeling é muito bom! Viajei mesmo!

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  3. Sério, o que acharam desse trailer da Snow White?

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  4. Bom... O post está excelente. De leitura muito rápida e dinâmica... Parabéns a Ailson e Thaynah. Só acho que faltou citar as famosas fabulas de Esopo,(Escravo grego contador de histórias) como: A cigarra e a formiga e A raposa e as uvas.

    Quanto ao punhal da pequena sereia, Foi o flagelo da humanidade quem ofereceu (todos sabem disso)... Maldito corruptor, servo da Apophis!!!

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  5. De fato A Raposa e as Uvas é um clássico...

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  6. Quem criou foi Reginaldo Rossi. Eu sei tudo sobre mitos e fábulas.

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  7. Isso mesmo Edgar. Reginaldo Rossi criou a fabula da raposa e as uvas conversando com um garçom em uma mesa de bar...

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  8. ... sobre uma leviana que o deixou doidão...

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  9. O.o Não lembro de ter postado isso. O.o

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