quinta-feira, 12 de abril de 2012

Os RPGistas do mal



Como a imprensa e os próprios jogadores acabam com a possibilidade do nosso hobby se tornar popular no Brasil

Observação importante: o que está escrito aqui não é uma verdade absoluta. Este texto se trata de um artigo de opinião e o seu conteúdo é de total responsabilidade do autor. Caso alguém se sinta ofendido de alguma forma, favor fazer um comentário. Ele não será apagado e o autor responderá assim que puder.

O pior preconceito é aquele que não aparece. Aquela fagulha de antipatia gratuita que alguns teimam em possuir. Mesmo sem conhecer as coisas  por completo. Um dos principais entraves que contribuem para que o RPG não se torne algo popular, infelizmente, são os próprios jogadores.

Com os egos inflados por jogar um jogo que ninguém joga, ou por, até mesmo, ser tachado de cultista ou algo do tipo, alguns RPGistas curtem a marginalidade. O “ser do contra”, ser diferente e ainda se achar melhor só por que joga o tal do RPG.

Esse pensamento acaba fazendo com que as pessoas ao redor desses indivíduos passem a enxergar o jogo como uma coisa obscura, ruim. Pior que isso, passam a ver o RPG como uma coisa complicada e chata. Acabam se afastando.

A  aparição do jogo na novela Rebelde criou polêmica entre os jogadores. Alguns são a favor do jogo na novela, outros são contra. Outros ainda, esperam para ver o que vai acontecer. Particularmente, baseado nos meus quase 10 anos de experiência no assunto, acredito que existe um marasmo muito grande por parte de nós mesmos. Comecei a jogar muito depois do caso de Ouro Preto – que, diga-se de passagem, confirmou que o RPG não tinha nada a ver com o assunto. Os acusados foram considerados INOCENTES e hoje se sabe que delegado que investigava o caso na época não tinha idoneidade alguma...

Neste tempo, pude conhecer muitas pessoas, grupos de Otakos, RPGistas, fãs de heavy metal, participei de um clube de RPG, criei um ^^. Toda a minha adolescência foi marcada pelo RPG e por muito preconceito por parte da minha família que nem tinha a novela Rebelde para assistir.

Fico imaginando o que está acontecendo na casa de muitos jovens jogadores de RPG agora.

Pensando nisso, reuni alguns pontos que acabam contribuindo para que o número de RPGistas não cresça no nosso estado e por que não, no Brasil. Confira, e se a carapuça servir, por favor, reveja as suas atitudes pois precisamos de você!



E a imprensa adora um RPG do cão!

É uma pena que a mídia brasileira, em sua ânsia mercadológica, acabe enquadrando certos temas sob a sua ótica. O fazer jornalismo, a apuração,  a pluralidade de vozes e até certo ponto, a imparcialidade acabam perdendo para a premissa de “tempo é dinheiro”. Foi assim no caso da Escola Base e foi assim também no Caso do assassinato em ouro Preto. Em ambos os casos, o que predominou foi o furo de reportagem sobre a informação. Aliados a isso, temos uma grande parte da população que é educada pela imprensa. Em um país onde jornalistas, muitas vezes, têm mais respaldo do que professores, deveríamos, no mínimo, pensar em uma discussão aberta sobre o assunto. 

Mas não, as coisas permanecem na superficialidade.

“Vi no Jornal Nacional, então é verdade”

Nessa batalha contra a imprensa brasileira o RPG, coitado, está perdendo feio. Em conversa com um jornalista aqui de Pernambuco, expliquei do que se tratava o jogo que ele nunca tinha ouvido falar apesar dos seus quase 40 anos de história. Encantado, ele se perguntou por que uma ferramenta ao mesmo tempo lúdica e educativa que já é fruto de inúmeras pesquisas acadêmicas no Brasil não faz parte da pauta de grandes veículos de comunicação... Por quê???

“O povo gosta de ver desgraça na televisão!”

Não sejamos hipócritas. A cultura é algo em constante evolução, mas costumes arraigados há séculos ainda se fazem presentes na vida de cada um de nós. Quem sou eu para afirmar que o povo deseja outra coisa com o sucesso do Big Brother Brasil, os altos índices de audiência de Programas Policiais e de Humor e a ânsia por saber quem foi que morreu na esquina nos dizendo o contrário?

Entretanto, é possível afirmar que os formadores de opinião possuem um papel importante na construção de uma sociedade esclarecida, já que infelizmente, esse papel que caberia para a educação não está sendo feito. Ensina-se para jogar o aluno no mundo capitalista e só. Talvez o conceito de Educação Integral, do qual o Malkavianos Clube de RPG é grande defensor, acabe com esse quadro aos poucos.

Então, apesar do povo gostar sim de desgraças e amenidades, e é até compreensível às vezes. Isso não é uma demanda popular, é algo que vem de cima para baixo. Se der certo uma vez, a imprensa repete o discurso e o indivíduo consome sem questionamentos. Por isso é preciso um maior engajamento se o nosso desejo de esclarecer as pessoas sobre a verdadeira prática do RPG for real.

Ao invés de se achar mais esclarecido que a maioria e criticar a imprensa brasileira, por que não produzimos conhecimento para quem sabe, alimentar as próximas capas dos jornais? O que acontece é que muitos dizem estar pouco ligando para o que a mídia veicula e tratam os jornalistas com desdém, afirmando sua posição como “o último esclarecido do universo”. Se você tem o conhecimento, não é egoísmo demais guardá-lo só para você e alimentar esse seu Ego Old School só para se sentir o grande “fodão”?

Alguns links úteis sobre RPG e Mídia:


Agora vamos aos estereótipos...

"Tenho medo que RPG vire modinha"


Para mim, esse é um dos piores. Sabe aquela pessoa que deixa de gostar de uma banda só por que todo mundo passou a gostar? Sabe aquela pessoa que não curte um filme só por que ele tem milhares de fãs? Aquela pessoa que quer ser do contra a qualquer custo e gosta de coisas excêntricas só para parecer diferente? Pois é. Esse tipo de gente também pode ser encontrado entre os RPGistas. A exposição do RPG na novela Rebelde pode criar uma visão erradas do jogo na sociedade, mas para o nosso “Do contra” isso não interessa. Para ele, a pior coisa que pode acontecer é o jogo virar “coisa de fã de RBD!”. “Agora vão dizer que RPG é Crepúsculo!” é o seu mote. Interessado em permanecer no underground criado pela sua mente, esse tipo de gente deseja que tudo permaneça como está para não correr o risco de perder o status de CULT que carrega na testa.

Ele não conhece RPG, dá zero pra ele

Para entender essa linha de pensamento vamos imaginar uma situação hipotética. Um grupo de amigos marca para ver Anjos da Noite no cinema. “Maurício” nosso personagem fictício, é fã de um RPG chamado Vampiro a máscara e espera ver no filme algo parecido com o que leu no livro, afinal, para ele os verdadeiros vampiros estão lá. No cinema, ele começa a tentar descobrir quais as ligações que o filme tem com o livro. Quando um dos seus amigos fala que nunca viu Vampiros controlarem a mente dos outros, ele faz cara feia diz que o vampiro usou dominação, um poder que essas criaturas utilizam no livro. No final do filme, descontente, Maurício diz que foi tudo uma grande porcaria, não porque o filme é ruim, mas porque é diferente do RPG que ele tanto gosta.

Tipos como Maurício podem ser encontrados aos montes. Indivíduos que conhecem vários tipos de RPG e usam os jogos como parâmetro para avaliar qualquer tipo de arte. Pior, eles acham que uma pessoa que não conhece o jogo é menos evoluída por conta disso.

Sou Old School, sou o Chifre Perdido do Vingador, sou a última poção de cura de Forgotten Realms! Sou foda, ding din ding din ding din!

O objetivo do RPG é reunir os amigos para se divertir. Porém para esse tipo de jogador, RPG não é para qualquer um. Ele leu o primeiro livro lançado no Brasil. Acompanhava todos os lançamentos em inglês. Encomendava RPGs importados, sabe até o que Elminster come no café da manhã e o que está escrito na página 56 do manual do jogador de AD&D. É difícil para eles aceitarem que qualquer um jogue o jogo que passaram anos aprendendo e se dedicando!

Os noobs - como eles chamam os novatos – devem aprender sozinhos, assim como eles aprenderam.  Não devem receber a atenção até que cheguem ao patamar deles.Muitos esquecem o fator cooperativo do jogo e criam uma espécie de divisão entre os próprios RPGistas.

Além de não curtir ensinar , esse tipo de jogador faz questão de mostrar o seu domínio sobre a maioria dos jogos já lançados. Caso alguém jogue um jogo que para ele não presta, faz questão de dizer que conhece vários tipos melhores de RPGs. Eterna briga desnecessária para saber qual RPG é melhor, mas o que vale não é se divertir?

Sobre a associação do RPG com o Heavy Metal

Isso se deve ao fato de muitas bandas de Heavy metal usarem temas como grandes jornadas, elfos, fadas e dragões nas suas letras. Como existe uma associação do rock, principalmente do Metal com o capiroto, trataram de dizer que o Diabo é pai do RPG também. Dois grandes absurdos.

Nem todo RPGista se veste de preto, deixa o cabelo crescer e tem a coleção de todos os álbuns do Iron Maiden. Existem RPGistas que curtem a Joelma oras! Por que não (eu mesmo conheço alguns ^^).

Têm RPGistas, porém, que adoram andar com sobretudos pretos e serem chamados de estranhos. (Hu! Estranho!). Um prato cheio para este tipo é andar com o livro de Vampiro em baixo do braço e sobretudos pretos no meio do parque 13 de maio só para chocar. Uma melancia na cabeça é mais nutritiva e serve também para aliviar o calor. Fica a dica.

Recado dado. É hora de recolher a minha insignificância e observar a repercussão dessas palavras se sentido.








7 comentários :

  1. Aprendi a jogar RPG com 11 anos, tenho 23 agora e faz uns 6 anos que eu não jogo com meus amigos, sinto falta, momentos hilários. Leio os livros ainda(joguei anos e anos sem nunca ler os livros de regra).
    Quando tava na adolescência curtia ser "fodão porque jogo RPG, muahaha". Já procurei regra de Vampiro em filme(essa é clássica).
    Agora, quem tiver preocupado com rpg virar modinha, fique tranquilo. Vai ser mais rápido que sucesso de verão,esse negócio de imaginação não tá com nada quando se trata de entretenimento.
    PS: Rpgista do mal mesmo são esses viciadinhos em MMMORPG que se acham doutores em RPG quando só jogam Tibia...
    até acho que esses joguinhos online não são RPG, tá mais pra subproduto genérico da matéria-prima de um sistema de D&D,Ravenloft,Storyteller.

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  2. Amigo, a gente tenta filosofar, idealizar e teorizar sobre uma postura pessoal "sem-preconcentos", mas isso é IMPOSSÍVEL!!! Todo mundo tem preconceito de pelo menos algo, e isso é absolutamente normal. Eu, por exemplo, não gosto de crente, funkeiro e militante político. Eu desconfio muito dessa gente auto-proclamada "sem preconceitos"
    Por isso que eu nem dou bola pro que falam sobre RPG. Me incluam fora dessa campanha pra conscientizar o povão. Assinar petição Online? HuAahuAhua! Imagina se eu vou ter que pedir desculpa e explicar o que é o Doom/Goth Metal pro pastor chato que mora do lado da minha casa quando ele diz que aquilo é "musica do capeta".

    Aborrecente que faz live em local público tem mais que se foder.
    Concordo também com o que vc falou dos puristas "oldschool".
    Aliás, Parece que agora só existe esse povo Old School na comunidade rpgística! Conheço cara que mal completou 20 anos e diz na net que joga rpg a uns 15! Mas na verdade joga a uns 3 ou 4 anos e aprendeu a jogar em mesa de 3D&T com adaptação do Naruto ou outro anime da Revista Dragão Brasil - e ainda fica nos foruns falando mal dos antigos editores da DB, o Trio Tormenta.
    É aquele perfil dos caras que gostam de chamar os outros de "noob", como vc ressaltou, porque um dia já foram chamados assim. Ser humano é vingativo! É como os babacas que fazem trote em faculdade porque já sofreram um dia, ao invés da pessoa ter consciência e ver que aquilo é muitas vezes uma agressão.
    Parece que querem criar uma RPGesfera que vai conduzir jogadores e mestres pro Caminho da Verdade e nos dizer a maneira que devemos jogar e a postura que devemos ter com o povo não rpgista e mídia. Isso é um ensaio sobre totalitarismo.
    Parece agora que todos os mestres de RPG querem posar de Filósofo/Psicólogo/Pedagogo/Educador/Sociológo e o rpg tem que ser inserido e aceito na sociedade. menos, né gente?

    Resumindo o que acho: Não me sinto ainda na obrigação moral de defender o Hobby por causa de novela na tv do edir macedo, mas se vier vereador e bancada evangélica no congresso querendo censurar algo, daí sim, vou reagir, como reagiria se fosse contra música, cinema, literatura, HQ's, animes, games...

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  3. Ótimo texto cara! Suas palavras encerram muito dos meus sentimentos.
    Acho que quando chegamos a extremos as coisas complicam e também acredito que a fama do jogo poderia ser melhor se nós fizessemos nossa parte e fossemos mais maduros em relação aqueles que não conhecem o jogo direito ou o desconhecem completamente.

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  4. Meus parabéns pelo texto!

    Seu pensamento é compartilhado por uma grande gama de RPGistas, infelizmente vivemos com esse pré-conceito, e realmente como disse cabe a nós, unidos, combate-lo e antes de mais nada dentro de nosso próprio nicho.

    Gostei bastante do seu texto, colocarei ele na minha Retrospectiva de 13/04.

    Abraços, e continue o ótimo trabalho!

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  5. LOL, o cara fala de Heavy Metal e põe foto de banda de Black Metal... Noob... kkkkkkkk

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  6. ótimo texto, concordo em gênero número e grau e já falei muito sobre isto em meu blog. Sou evangélico, mas também sou RPGista da geração Xerox (comecei jogar em 94) entendo o que gera a má fama do RPG no meio evangélico e em 90% dos casos é fruto de ignorância agravada pela reação nada amistosa de alguns jogadores de RPG (não considero tais pessoas RPGistas)que partem para agressões, xingamentos e não se dão ao trabalho de tentar mostrar o lado bom do RPG. Pagar preconceito e ignorância com mais preconceito e ignorância só vai piorar as coisas.
    Outro dia vi um comentário na blogosfera de um cara se gabando que estavam jogando RPG em praça pública e quando perceberam que alguém os observava começaram a agir como psicopatas assassinos para assustar o pobre coitado.
    Pergunto que imagem essa pessoa que foi assustada vai divulgar do RPG? Não precisamos de publicidade negativa, a mídia já se encarrega disto. Como o caso recente dos dois que foram no programa de namoro e a "louca" disse que gostou do cara mas não ia rolar porque eles eram de clãs inimigos de vampiros. Gente por favor!!! Bom senso.
    O “cabra” sai por aí fantasiado de Vampiro, Elfo, Troll, Cavaleiro de Armadura, Beholder ou outra coisa qualquer que a criatividade do cidadão inventar. E atravessa a cidade sozinho ou acompanhado de mais alguns fantasiados, agindo e falando como se fossem seus personagens (já fiz isso também).
    E depois fica “bravinho” quando dizem que RPG é coisa de Louco!!!
    Galera, vamos usar o bom senso. Você NÃO É o seu personagem (por mais que você goste dele). Deixe o Rolling Play só para a hora do jogo.

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    1. Coitadinhos dos evangélicos. Eles que sofrem preconceito dos RPGistas.

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