Por Natália Corrêa
Nerds, antissociais, góticos, praticantes de
magia negra ou simplesmente esquisitos: são muitos os mitos que envolvem
aqueles que jogam RPG, sigla para role-playing game, ou “jogo de
interpretação de papeis”. Felizmente, para a tranquilidade de pais e
responsáveis, esses estigmas não são mais que preconceitos concebidos pela
falta de conhecimento. De acordo com a dissertação de Rafaela Rigaud Peixoto,
mestre pelo Programa de
Pós-Graduação em Letras da UFPE, o RPG não apenas contribui para o
desenvolvimento cognitivo dos jogadores, como está a cada dia sendo mais
visto como uma atividade didático-pedagógica.
A pesquisa, denominada “A construção de sentidos
nos role-playing games: aspectos linguísticos e sócio-históricos”, aponta
para o potencial pedagógico do jogo, destacando sua fórmula interativa. “O
RPG não tem um caráter competitivo bem delimitado. Ao contrário, a cooperação
é quase sempre estimulada para que os obstáculos sejam vencidos
conjuntamente”, afirma a autora. A ideia é que cada participante crie sua
personagem baseada em um universo com regras preestabelecidas, enquanto um
narrador (ou mestre) guia essas personagens, criando situações de conflito.
Dessa forma, as decisões de cada jogador interferem diretamente na narrativa,
que vai sendo construída coletivamente no decorrer da partida.
Rafaela explica que existem muitas modalidades de
RPG (foto abaixo). Na mais tradicional, conhecida como RPG de mesa ou
narrativo, os participantes interpretam as personagens verbalmente ou com
miniaturas. Porém, na categoria “live action”, os jogadores se vestem a
caráter e realmente encarnam o personagem, o que muitas vezes causa
estranhamento em quem não conhece o jogo, especialmente quando os temas
envolvem fantasia medieval, como o universo de Dungeons & Dragons, ou o
submundo, como Storyteller. Existem ainda o RPG digital, que se utiliza de
uma interface no computador, e o RPG de cartas, embora esse último seja menos
atrelado à proposta tradicional.
Para a autora, o formato dos role-playing games é bastante salutar e estimula o desenvolvimento cognitivo dos jogadores em qualquer idade, pois exige uma postura ativa, de tomada de decisão, que estimula a atividade dos neurônios. “É importante que o indivíduo possa aprender a vivenciar situações diversificadas, com as quais eles provavelmente terão de lidar em um futuro próximo. Ou, mesmo que não a vivenciem no futuro, é importante que eles aprendam a lidar com ela, para que possam agregar novos valores e habilidades, crescer, ficar mais maduros”, comenta Rafaela.
Ela conta que o potencial pedagógico do RPG,
associado à teoria do interacionismo sociodiscursivo, ou seja, o estudo do
discurso falado ou escrito dentro de um contexto de interação, tem despertado
o interesse dos educadores em escolas públicas e privadas. “Por ser uma
construção de narrativa, a turma se sente bem mais à vontade para expor suas
ideias e desenvolver a história de acordo com seu ponto de vista”, explica a
pesquisadora. Durante o jogo, os alunos podem exercitar a língua, enriquecer
o vocabulário e até mesmo desenvolver um estilo discursivo próprio.
A autora registra ainda a importante contribuição
dos jogos interpretativos para o crescimento interpessoal e intrapessoal da
criança, como o combate à timidez, por exemplo. Além disso, as atividades com
o RPG estimulam o trabalho em grupo, para vencer desafios e encontrar
respostas para os problemas, aproximando-se das práticas de ensino
colaborativo.
Durante a realização da pesquisa, Rafaela
observou partidas de RPG e entrevistou jogadores, além de ela própria ter
jogado algumas vezes. Para ela, trata-se de um momento de liberdade total,
livre de convenções sociais, em que o jogador pode fazer coisas que tem
vontade de experimentar, mas que não seria bom fazer na vida real.
Entretanto, enquanto a experiência é apenas fictícia, o aprendizado é
verdadeiro.
» Confira a íntegra da dissertação na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFPE
Mais informações
Rafaela Rigaud Peixoto rafaela.peixoto@gmail.com |
sexta-feira, 13 de abril de 2012
Pesquisadora da UFPE faz dissertação sobre RPG & Educação
Marcadores:
Artigos
Assinar:
Postar comentários
(
Atom
)
Ótimo texto precisamos cada vez mais divulgar trabalhos como este.
ResponderExcluirParabéns pela divulgação. É trabalhoso garimpar todas as publicações, mas tenho me empenhado:
ResponderExcluirhttp://rpgsimples.blogspot.com.br/2010/07/bibliografia-rpg-e-educacao.html
Gilson