domingo, 12 de fevereiro de 2012

Como começar a escrever? Ser espontâneo é a melhor opção!

Anne Rice é uma inspiração para jovens escritores


Por Jorge Barbosa

O escritor às vezes é um sujeito muito esquisito. Fica lá distraído no seu mundo pensando nos seus personagens que na sua imaginação são reais e, de fato, são reais, por que não. E vem tanta coisa a sua mente que, às vezes, pode chegar a abandonar o principal: escrever. Tudo é real, ganha vida própria e ai já viu, o escritor torna-se personagem esperando que alguém escreva sobre ele. Pra que isso aconteça vale tudo: vestir-se como mendigo e vender poesias em bares boêmios, me apaixonar por duas ou três mulheres e dar aquele jeitinho de arrumar uma confusão amorosa. Têm àqueles mais sofisticados, sim, por que não! Sabem tudo sobre escritores, conseguem entrar nos círculos tradicionais de literatura, projetam-se como grande escritor, mas escrever que é bom... Conheci muitas figurinhas dessas e como falavam do seu amor as letras.  Sempre sonhei ler alguma coisa deles.Existe o outro lado, claro que não vamos pensar que existem verdades. Por favor! Podemos ter religião, tudo bem, mas, daí levar tudo ao conceito de verdade é outra história. Isso acontece mais ou menos assim“Não li Paulo Coelho e não gostei. Pronto”

O que é que há velhinho?
A possibilidade de diálogo é nula, aliás, pode até acontecer se tiver a técnica e muito trabalho com técnica. A perfeição existe e está com eles. Coitado dos novos, por não dominarem a técnica é quase certo que o livro que lançaram não presta. Outro critério é a verdade, se passar de cem exemplares vira best-selers e passa a ser visto com maus olhos. Eu diria que tanto um posicionamento como o outro me influenciaram, logo quando pensei me tornar escritor. Então, para ser escritor, pensava: é preciso pensar como meus personagens, vestir alguma roupa especial, entrar numa roda literária importante, beber muito, amar todas as mulheres que encontrasse para daí reinventar o amor platônico de um jovem escritor com a sua amada.

 Graças a Deus essa fase passou rápido. A ideia de me embriagar para imitar Charles Bukowski ou ser um beat não fez bem. O principal não conseguia fazer; escrever. O tempo que passava me recuperando dessa bagunça mental e da desordem física (ressaca, por exemplo) me impediam no processo de produção literária. No segundo caso foi mais tranquilo. Angustiado porque só os estereótipos não davam conta, resolvi pesquisar alguns livros sobre criação literária. Comprei vários e li todos. Para quem está começando ajuda bastante. Aos poucos, fui desenvolvendo as primeiras histórias, criando diálogos mais compreensíveis.

Foi com ajuda desses livros que escrevi meu primeiro conto (que considero o melhor) “O dia da Virada[1]”, achando pouco, resolvi entrar pra oficina literária, algo que recomendo a todos que pretendem se tornarem escritores e como era de se esperar, aprendi muita coisa embora tivesse exagerado um pouco na dose deste remédio que foi feito para curar. Neste momento a escrita passou a ser apenas técnica. Desta vez o bloqueio foi total, convicto que não sabia escrever abandonei o projeto de escrever o primeiro livro. Durante quase dois anos, escrevi contos. Escrevia por escrever, às vezes postava em blogs sem grandes pretensões.
Eu não sabia o que era obliqua, mas dissimulada eu sabia.
 Depois de muito tempo fazendo uma faxina nos arquivos digitais vi a grande quantidade de coisas produzidas. Isso me inquietou bastante, “como alguém que desiste de escrever um livro tem vários livros escritos?”. Mesmo assim, o projeto ficou engavetado. Isso só veio mudar a partir de uma conversa com um aluno, ao apresentar um leque de possibilidades à divulgação literária que ainda não tinha dado conta. Por indicação dele consegui uma editora que aceitou o projeto e que agora deverá lançar até o mesmo de abril meu primeiro livro de contos.
A possibilidade de publicar algo reacendeu a vontade de fazer mais, dar um sentido a uma necessidade, que apesar ter ficado de lado, não deixou de acontecer. Demorei pra entender que a técnica mais importante para o escritor é a espontaneidade. Não adianta querer ser Dostoiévski ou Machado de Assis, gênios incontestáveis da literatura universal, somos produtos do meio e das circunstâncias, podemos e usamos a imaginação porém “Crime e Castigo” só ouve um, “Memórias Póstumas”, idem. Demorei a entender que devemos trabalhar com a experiência e todos os elementos que a vida nos fala. Por isso que a literatura é rica, é a individualidade que dará a 'cara' e sentido as palavras. Encare a literatura como a vida, levantamos todos os dias com noções do que devemos fazer e nunca sabemos se realmente vamos conseguir. Quando conseguimos, ueba!, quando não, um bom descanso e o recomeço, assim como a vida.



[1] Este conto será publicado pela editora Multifoco em abril de 2012, junto as demais coletâneas de conto.

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