terça-feira, 23 de agosto de 2011

Conto: O regresso para Shantra


Por Kariny Aciole

"O derradeiro beijo foi tão significativo para mim quanto o bater de asas de um inseto..."



Lufukai, Terras Perdidas.

Fim de verão 

A lua cheia, pendurada no ar sobre o Vale Nebuloso, iluminava o Guerreiro e seu negro corcel por aquele caminho que ambos conheciam tão bem.

As estrelas pareciam iluminar tão claramente o céu quanto qualquer lâmpada de gás da luxuosa Cidade de Niril. 
O brilho que aquela lua branca e pálida emprestava a ele o fazia lembrar-se da doçura que habita o corpo feminino.
Recordou-se da primeira vez que estivera entre as pernas de uma mulher, de seu cheiro, dos lábios sedutores e aqueles seios fartos. Exprimiu até um sorriso franco em quanto o corpo inteiro parecia despedaçar-se tornando difícil manter a postura arrogante de sempre.
Mas promessa era dívida. Estava agora retornando ao lar e como havia prometido a Shantra partilharia com ela as migalhas de tempo que os Deuses lhe dessem.
Parou por segundos, sabia que última parte era mentira para ambos.
Por um momento desejou que todos os erros desaparecessem, e apenas Shantra existisse. Que não fosse um tolo arrogante, orgulhoso demais para levar uma vida como um simples camponês que passa as tarde entalhado brinquedos de madeira para os filhos e vendo o quanto os anos mudaram as formas de sua mulher. E pensar que Shantra queria dar a ele uma típica vida de fazendeiro. Deixou escapar um som que lembrava um riso, abafado pela dor que a perfuração em seu pulmão esquerdo causava. Mais nascera para ser guerreiro e não fazendeiro. Infelizmente as guerras lhe mostraram tantas facetas cruéis, que isso acabou penetrando-lhe a alma e rendendo inúmeros desafetos ao decorrer de suas lutas.
Experimentara o ódio, o prazer pela matança e bebera da taça da vaidade muitas vezes.
Conquistou terras por ouro, prata e por mulheres. Como adorava devorar cada centímetro dos corpos nus de cada uma delas, virgens eram adoráveis, mas inexperientes demais, as viúvas chorosas muitas vezes exibiam um falso recato, algumas raríssimas eram orgulhosas preferindo a morte a deitar-se com ele, mas havia outras que eram verdadeiras meretrizes que se escondiam por trás de títulos de nobreza, mas as que ele realmente gostava eram aquelas que lembravam Shantra!
Então as imagens dos dias de juventude alvoroçados pelos instintos masculinos surgiram em sua cabeça com a velocidade de uma flecha élfica. Os longos cabelos dourados que lhe caiam pelos ombros bronzeados pelo trabalho nas hortas ao redor da velha fazenda, o corpo formoso que surgia por entre as fendas do vestido de camponesa, os seios fartos que atraiam os olhares lascivos dele, a maneira que a água do cantil caia deliberadamente pelo vale de seus seios, o hálito de frutas silvestres, os lábios carnudos que exibiam sempre um convite tentador e aqueles olhos cor de terra que o enfeitiçaram desde o primeiro momento que a espiava no rio banhando-se ao bel-prazer.
Quantas vezes durante as batalhas nos campos da perdição, ele desejou conhecer o sabor erótico que habitava delicadamente em uma relva dourada entre as coxas macias dela. Ou talvez, simplesmente, sentir que poderia morrer em seus braços e esquecer-se de tudo.
Quando finalmente pode ver a velha construção de sua amada sentiu um arrepio na espinha enquanto um filete rubro descia lentamente pelo canto da boca bem feita. Até mesmo seu fiel corcel hesitou por instantes, mas atendendo ao toque suave em seu pescoço, prosseguiu em direção ao desejo do Guerreiro.
Ele nem sequer percebeu o quanto os ferimentos haviam piorado, porém a chama do desejo atiçava-o de tal modo que não percebia o ar perfumado com a fragrância da morte. Havia algo gélido ao redor da velha construção uma neblina delicada a circundava de forma etérea...


Desmontou sem a menor graciosidade de outros tempos. Seus pés o levaram na direção da porta, que se abria antes mesmo que ele batesse. Seu corpo tremeu e o vento lançou seus cabelos para trás, antes tão negros, mas que agora exibiam fios prateados adquiridos através dos anos em guerra. Belíssima! A palavra sufocava lhe a garganta e fazia a boca ficar seca. Diante dele sua Deusa aparecia, usando uma camisola semitransparente, os seios que lembravam montanhas estavam com os bicos rígidos insinuando-se selvagemente e por instantes ela corou.
Quando atingiu a escada na qual Shantra estava de pé, parou diante dela e pôs a mão esquerda na parte de trás do pescoço bronzeado que conhecia tão bem. O coração dele começou a bater tão rápido, que estava certo de que iria explodir. Seus lábios foram de encontro aos dela. Nenhuma palavra precisava ser dita, os corpos falavam de uma forma selvagem. Shantra era diferente das outras mulheres que ele conhecera havia algo nela de inocente e ao mesmo tempo quando estavam sozinhos surgia algo de erótico em seus olhos. Naqueles dias que antecederam sua partida ele era jovem demais para compreender que cada mulher é um enigma perverso que por mais que um homem tente desvendar acabara sendo devorado por suas chamas. Mas naquele momento nada mais precisava fazer sentido.
Eles beijaram-se mais uma vez, sentindo como se aquele fosse o derradeiro momento de ambos no mundo. A língua dela deliciava-se com o sangue que descia delicadamente pelo canto da boca dele. Os olhos de sua adorada Shantra exibiam um brilho avermelhado que não o assustou, mas conseguiu hipnotizá-lo ainda mais. Por entre os dentes ele sussurrou gentilmente: devora-me!
Ela sorriu ao sentir o gosto do sangue em sua boca. Fora a primeira vez que sentira este sabor, esta febre, toda a euforia e toda a essência de meu amado que retornara aos seus braços mesmo que aquilo não fosse eterno. O corpo agitando-se sob o dele, em uma cavalgada agressiva, onde os seios fartos moviam-se de forma pervertida, a língua dela molhava constantemente o lábio superior e em seguida acariciava os seios como se o convidasse a fazer o mesmo.
Como estava linda. Parecia nascida para o sexo e para enlouquecer qualquer um que a tocasse. Não era mais virgem isso ele percebeu pela maneira que agia. As mãos que exploravam o peito másculo sem timidez, a língua que parecia uma serpente percorrendo todo o corpo, dentes que mordiam a pele como se desejassem de fato devora-lhe até os ossos e por fim o triangulo dourado entre suas pernas não era apertado como uma bainha nova. Ele sentiu ciúme ao perceber que alguém antes dele havia deflorado aquele corpo voluptuoso.
Puxou-lhe os longos cabelos com força, mas não era a hora de perguntar se passara todo aquele tempo sem ter alguém para lhe aquecer a cama. Ela gemeu alto, ao sentir que seu corpo era perfurado por ele com violência, mas exibiu um sorriso pervertido quando sentiu o membro dele agitar-se dentro dela.

O tempo parecia parar em quanto trocavam prazeres indizíveis. Os corpos fundiam-se freneticamente e o nome dela ecoava no ar como se fosse a balada de um trovador vulgar. Gemidos, sussurros eróticos ao ouvido e vez ou outra tomava-lhe nos lábios o membro rígido que trazia a ambos excitação selvagem. Iniciaram uma dança horizontal que tinha como tema a melodia das Deusas do sexo.
Sua adorada Shantra era a personificação de todos os seus desejos, recordou-se das inúmeras guerras, do sangue de inimigos escorrendo e sendo bebido pela lâmina sedenta de sua espada, de crânios partidos, de urros de dor e medo em meio à lama dos campos de batalha em dias chuvosos. Da fama, da glória e do poder que lhe era concedido sempre que ceifava uma vida.
Era como se sua doce amada pudesse compartilhar naquele momento de todas as suas lembranças. Das orgias realizadas com as mulheres de inimigos derrotados e do prazer que as suplicas delas causavam aos seus ouvidos. Então o sussurro doce que era a voz dela invadiu seus ouvidos em quanto ele a penetrava vigorosamente sem perceber que suas feridas reabriram e o sangue escorria rápido.

— Tua vida foi cheia de aventuras violentas, meu amado senhor.

— Sim, durante toda minha existência fui combatente, conquistei o inimigo, não temi a lâmina da morte e deitei-me com suas esposas e filhas!

— Então tivestes uma vida digna ou indigna?
— Não serei hipócrita para dizer que tive uma vida digna, apenas vivi da maneira que fui destinado a viver.

— Então tenho um humilde pedido a fazer, meu amado senhor.

— E qual é?

— Mas antes olha a tua volta meu guerreiro, pois ainda não te apercebestes que o tempo parou e o ar tem fragrância de morte?

— E o que isso importa a nós agora mulher?!? Apenas continue a cavalgar meu corpo que me dou por satisfeito!

— Esperei-te por longos anos meu senhor. Desejei que tivesse ouvido meus apelos, quem sabe se tivesses regressado antes as coisas seriam diferentes, mas agora só posso pedir-te uma única coisa. Quero que me beije demoradamente e permita-me devorar teu coração quando atingirmos o êxtase dessa dança!

— Um beijo e desejas devorar meu coração?Brincas comigo, pois afinal meu coração já foi devorado por ti.

— Sim, meu senhor. Este é meu desejo. E não brinco com este assunto. Pois mesmo distante sempre fui tua companheira fiel, mesmo quando queimaram minha fazenda jurei que esperaria por ti não importasse quanto tempo demorasse.

Ele a olhou nos olhos sem entender o que ela dizia.

— Mesmo quando a fome atingiu estas terras continuei a esperar por você e naquela noite quando teus inimigos aqui chegaram desonrando vosso nome. Mesmo sem ter uma espada eu os feri com pedras e eles rasgaram-me o vestido, jogaram-me neste mesmo chão onde fazemos sexo agora e destruíram-me o corpo, mas não a alma.

 — Diga-me que isto é um sonho louco, mulher! Que isso não aconteceu, pois não me perdoaria se o que dizes for verdade!
  — Ah, meu amado quem me dera fosse mentira e que em uma noite fria de inverno meu corpo tivesse resistido mais tempo porem não foi assim.

O coração dele gelou, olhando que envolta dele as paredes começavam a queimar, que podia ver sua adorada Shantra em um canto escuro, o rosto inchado e a pele cheia de feridas. Ele viu os homens entrarem e a estuprarem por horas. Pode até mesmo sentir o frio que o inverno trouxe, fazendo a antes tão vigorosa Shantra se torna uma boneca em frangalhos quase sem vida. Até que em uma noite a vida lhe foi tomada rapidamente pelas sombras da morte.
Naqueles instantes finais onde sua sanidade era colocada a prova não havia mais o que fazer, restava apenas continuar a cavalgar com ela para um abismo escuro e solitário.

Ele sentiu que ela cavalgava freneticamente seu membro e por fim atingiam juntos o êxtase selvagem que poucos amantes conheciam. Ao redor deles ruinas surgiam, o vento frio acoitava-lhe o corpo e o sangue escorria mais rápido de suas feridas. Ao ouvir um relinchar assustador procurou seu corcel mais o que viu foi um cavalo cadavérico que no lugar dos olhos exibia duas tochas vermelhas e vermes caiam de sua boca.
Então tomado pela loucura a abraçou com força, desejando que o sopro da juventude inundasse os pulmões de ambos e que tudo não passasse de um terrível pesadelo. Mas como poderia ser tão tolo? Ele matara tantos, cometera tantas barbáries e estuprara muitas. Como podia esperar retornar aos braços dela sem sofrer nenhum flagelo insano.

— Perdoe-me minha amada não sabia de tua má sorte! Perdoa-me minha adorada! Devora-me ou mata-me não me resta mais nada além de padecer embora isto não compense teu sofrimento!
Ela não respondeu, apenas sorriu se aproximando de seu amado guerreiro e lhe dando um longo e profundo beijo. O grande guerreiro sente um último calafrio e Shantra, agora em sua verdadeira aparência, cadavérica, surge diante dele. Ela foi sua devotada companheira, fiel a ele, mesmo após a morte. Agora devorava lentamente o coração que arrancou com facilidade do peito e exibia o sorriso mais gentil que ele conhecera.

Por fim ele teve pelo menos um simples desejo realizado: Morrer nos braços de sua amada Shantra que agora vagava em noites escuras sempre buscando saciar a fome e o vazio que seu amado guerreiro deixara. Seduzindo algum tolo desatento que caminhasse por aquelas terras...

16 comentários :

  1. Muito bom o conto, senti-me dentro dos personagens, parabéns!

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  2. Uau! Que conto mais caliente...

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  3. Esse conto está a cara de kariny mesmo!!! Extremamente cianótico...

    hauhauahauhauhah

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  4. Rs,

    Rapaz estou só aqui de olho na repercussão desse conto...

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Parabéns pela história, Kariny! Ela representa bem uma de suas fases...

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  7. Obg pelos comentários galerinha xD

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  8. muto bom esse conto fiquei hot com ele. u-alaala!

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  9. Por que num postão rentai aqui no blog tb?°°w?

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  10. fodaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!o cra comeu ashantra!

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  11. Thiago... Seu pervertido...

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  12. Achei teu blog Loba.
    Da uma atualizada nele caramba!!!!
    Teus contos são FODAS Devoradora De Sonhos :)

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  13. Ótimo texto, gosto destes escritos :)
    Felipe Mariano

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